sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Diálogo com a Loucura

Por Acauan Guajajara

Publicado originalmente em 10/9/2003 10:15:35


Anfitrião: Quem sois vós estranho, que entrais em minha casa?

Loucura: Eu sou a Loucura.

Anfitrião: Que quereis de mim?

Loucura: Quero que renuncieis à Razão e me sigais.

Anfitrião: Por que deveria eu seguir-vos, se sois Loucura e prefiro a Razão?

Loucura: Se me seguirdes, para vós serei Razão.

Anfitrião: Não quero seguirdes.

Loucura: Muitos me seguem, e são felizes.

Anfitrião: Não desejo tal felicidade.

Loucura: Preferis ser infeliz na Razão a serdes feliz na Loucura? Pois digo que louco sois vós e que, portanto, vós já me seguis, se me seguis, para vos sou Razão e se preferis Razão, vinde comigo.

Anfitrião: Vossos artifícios não me enganam, não sou infeliz na Razão e não sou feliz na Razão. Na Razão sou o que sou e apenas isto, e vejo em cada um quem é, e em cada coisa o que é, e vejo que vós sois Loucura e não vos seguireis.

Loucura: Os que me seguem vos chamam de louco, e os que me seguem são muitos. Acaso credes vós, que sóis UM, serdes Razão, quando tantos estão comigo? Estando tantos comigo, não serei eu Razão?

Anfitrião: Não. Não importa quantos vos sigais, vós sois Loucura e não vos seguireis.

Loucura: Posso dar-vos tudo que quiserdes. Na Razão, sois mortal, me sigais e vivereis para sempre.

Anfitrião: Não há vida na Loucura.

Loucura: Os que me seguem acreditam que estão mais vivos que vós, e eles são muitos, me sigais e crerás estardes mais vivo do que hoje e não morrereis jamais.

Anfitrião: Seguir a Loucura é morrer antes da morte.

Loucura: Me sigais e vos farei grande, farei de vós o maior de todos os homens, tudo vos será possível e tudo por vós será alcançado, se me seguirdes.

Anfitrião: Não há grandeza em vós, pois vós sois Loucura e não há grandeza na Loucura, então não podeis tornar grande a ninguém.

Loucura: Muitos me seguem e cada um deles crê que é o maior de todos os homens.

Anfitrião: Não quero ser maior que ninguém, quero ser o que sou, e saber o que quero.

Loucura: Vós sois louco.

Anfitrião: Por que viestes à minha casa?

Loucura: Vós me convidastes, pois ansiavas por minha presença. Ouvi vosso coração e vindes comigo.

Anfitrião: Em meu coração reina o silêncio, portanto meu coração me diz que deveis calar-vos e partir, pois em minha casa habitará a Razão e onde a Razão habita vós não sois bem-vindo.

Loucura: Eu voltarei. Quando o desespero se acossar de vós, vossa tão incensada Razão não vos socorrerá, e quando o desespero se acossar de vós, eu estarei lá e vós chamareis por mim e me seguireis.

Anfitrião: Vós sois o desespero, pois o desespero é Loucura e a Loucura sois vós, se o desespero se acossar de mim, será vós, com outro nome que se acossa de mim, e eu clamarei à Razão para que afaste de mim o desespero que sois vós, pois vós sois Loucura, que traz o desespero aos homens para se apossar deles.

Loucura: Eu voltarei.

Anfitrião: Sei que vós não partireis. Fingirás partir, pois fingida é a Loucura, e se ocultará em minha casa e me espreitará e esperará, e se valerá do desespero para me acossar e, se quereis saber, não sei se resistirei a vós para sempre, mas hoje eu vejo a vós, vejo que sois Loucura e hoje vós não triunfareis.

Loucura: Segui-me

Anfitrião: NÃO!

Ioannes Paulus PP. II, a morte do século XX

por Acauan Guajajara

Publicado originalmente em 2/4/2005 23:19:35



Karol Joseph Wojtyla morreu às 16h37min (horário de Brasília) do dia 02 de Abril de 2005.

Sai de cena o último dos quatro construtores do final do século XX que ainda estava no poder.

De certa forma o século XX morre com ele, estendendo-se além dos limites da cronologia por obra de um pontificado que decidiu passar para História antes de terminar.

Em 1979 Margaret Thatcher foi eleita Primeiro Ministro da Grã-Bretanha.
Em 1980 Ronald Reagan foi eleito presidente dos Estados Unidos da América.
Em 1985 Mikhail Gorbachev chega ao poder na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.

Mas foi Karol Wojtyla, em 1978, o primeiro a se assentar em um dos quatro postos que colocaram em movimento as engrenagens históricas da surpreendente seqüência de eventos que produziria o mundo do início do vigésimo primeiro século.

Foi o primeiro a se assentar e o último a sair, vivendo no intervalo o que os chineses chamam de tempos interessantes.

Quando a chama olímpica entrava no Estádio Lênin para a cerimônia de abertura dos jogos de Moscou, em 1980, a atenção do mundo se dividia entre a simpatia do ursinho Micha, mascote dos jogos e o recrudescimento da guerra fria, motivado pela invasão soviética ao Afeganistão, por conta da qual o governo americano ordenou o boicote de seus atletas às competições.

Embora as contradições do império soviético já fossem conhecidas na época a ponto de não serem poucos os que tinham certeza de que o gigante cairia, pouquíssimos foram os que previram quando e como se daria tal queda, uma vez que a época e o cenário permitiam as mais pessimistas especulações.

Nove anos após a Olimpíada que mostraria ao mundo as vitórias do socialismo, o muro de Berlim desabava, uma das pedras da seqüência de dominós que destruiria a cortina de ferro e a própria União Soviética, dois anos depois.

Mas Berlim não foi o primeiro dominó da cadeia.
Esta honra coube a Gdansk, a antiga Dantzig, cidade polonesa industrial do báltico, muito citada nas histórias das guerras mundiais.
Foi lá, no mesmo ano dos Jogos Olímpicos de Moscou, que surgiu o Sindicato Solidariedade, liderado por Lech Walesa, que, comandando as greves dos operários dos estaleiros, desafiou a repressão comunista local e o risco da invasão da Polônia pelas forças do Pacto de Varsóvia, ironicamente chamado pelo nome de sua própria capital.

A confiança de Walesa se apoiava em sua fé incondicional em dois personagens: A Virgem Negra de Czestochowa e Karol Wojtyla.

O Papa que ingressou na Igreja Católica Romana em uma Polônia sob a mão de ferro de um regime totalitário e anti-religioso personificou a Fé que define a identidade nacional dos poloneses, os diferenciando dos demais eslavos, na maioria ortodoxos, e usou com decisão a força desta simbiose entre religião e nacionalismo contra a ditadura polonesa.

Venceu.

Anos depois, João Paulo II enxergou na Glasnost de Gorbachev a grande chance de libertar seu país e golpear fundo o comunismo que execrava. Para isto aliou-se a Reagan e Thatcher numa forte e decidida coalizão que o cambaleante império comunista não conseguiu enfrentar.

Cumpria-se a missão de vida de um homem que na juventude viu seu país ser massacrado pela tirânica ocupação nazista e assistiu a partida dos alemães coincidir com a chegada de um novo opressor, as divisões de Stalin.

Não é de admirar que um cardeal capaz de vencer neste ambiente hostil desenvolvesse as capacidades que o fariam o líder espiritual de mais de um bilhão de católicos, primeiro Papa não italiano em séculos.

Também não causa surpresa que alguém com tal biografia se tornasse um conservador convicto.
Suas posições radicais contra o aborto, os métodos contraceptivos artificiais e as pesquisas com células tronco embrionárias lhe valeram a oposição raivosa dos setores da sociedade que defendiam tudo isto.

A atitude do Papa quanto a esta oposição foi expressa claramente em sua visita aos Estados Unidos, país onde os liberais católicos prometiam colocar o pontífice contra a parede e exigir mudanças de rumo do Vaticano.
Calaram-se todos quando João Paulo II desafiou-os em público, dizendo que aqueles que não estivessem satisfeitos com as doutrinas de Roma eram livres para deixar a Igreja, já que a Santa Sé preferia ter bons católicos a ter muitos católicos.
O viajante polonês conquistava a América.

Nas quase três décadas de seu pontificado combateu o esquerdismo dentro da própria Igreja que comandava com a mesma energia com que o combateu fora.

Com João Paulo II a Teologia da Libertação perdeu força na cúpula romana, sobrevivendo no baixo clero e em segmentos do episcopado latino-americano, onde desarticulado e sem apoio nos altos círculos cardinalícios sofreu a irônica derrota de assistir o crescimento de um movimento apolítico e avesso às ideologias esquerdistas – a Renovação Carismática Católica.

Também por ironia, não é segredo que não agradava ao Papa tirar a Igreja do marxismo para ver tantos fiéis católicos bandearem para um neo-pentecostalismo que beira a heresia, mas Karol Wojtyla parece ter reconhecido os limites de sua obra e deixado para seu sucessor combater esta nova contaminação no seio da Igreja Romana.

Mas sua maior derrota foi ver sua Igreja arrastada pelos escândalos de pedofilia de clérigos, vergonhosamente acobertados por seus superiores.

Pessoalmente, destaco duas lembranças minhas de João Paulo II.

A primeira, foi ter minha baixa no serviço militar adiada por causa de uma das viagens do Papa ao Brasil, quando se cogitou a convocação de minha unidade para atuar nos serviços de apoio prestados pelas forças armadas para organizar e dar segurança às grandes concentrações que se formavam para ver o pontífice.
Dada a irrelevância de minha unidade, terminamos não sendo convocados para nada.

A segunda lembrança é a de encontra-lo celebrando uma missa campal na Piazza San Pietro, quando um Índio viajante, mais interessado em mostrar ao seu pequeno filho o magnífico acervo do Museu Vaticano do que em avistar celebridades, deparou-se inesperadamente com um Papa já velho e doente, que em nada lembrava a figura enérgica e vibrante que descia imponente das escadas dos aviões para beijar o solo dos países que visitava.

Mas então, quando a voz do Papa entoou em canto a benção final, num tom surpreendentemente firme e vigoroso, todas as demais vozes na grande praça se calaram e o silêncio de milhares testemunhou o carisma de Karol Wojtyla.

O Valor da Vida

Por Acauan Guajajara

Publicado originalmente em 12/3/2005 13:41:11

Valor é um conceito arbitrário que mede a importância que damos a algo.

Assim, as coisas não vivas tem valor relativo e convencional, que varia conforme as circunstâncias culturais, históricas e ambientais.
Um diamante pode ter um valor inestimável para um homem civilizado e ser apenas uma pedrinha bonita para um primitivo.
Um copo de água pode ter um valor desprezível ou ser o bem mais valioso do mundo para quem está morrendo de sede.

A questão é se a vida tem valor absoluto, ou seja, valor em si. Um valor que não deixa de existir quando não é reconhecido por aqueles que o avaliam.

Uma abordagem lógica da questão é considerar que somente a vida dá sentido ao conceito de valor.
Nada é valioso para uma pedra, por exemplo.
Se nada fosse vivo, nada no universo teria valor algum. Uma estrela e um grão de poeira valeriam igualmente coisa nenhuma.

Se é a vida a razão de todo o valor, negar o valor da vida implica em negar todos os demais valores, pois estes existem em função daquela.

Como é a vida que define o valor de tudo o mais, e portanto possui valor em si só, resta a questão de se a vida singular de cada espécime tem um valor absoluto, já que a vida continua se manifestando em outras unidades quando algumas morrem.

A primeira justificativa de valor para um espécime vivo é que só espécimes vivos podem ser reconhecidos como indivíduos, seres que, apesar de estruturalmente serem semelhantes a todos de seu gênero específico, são, em sua última instância, únicos.

Nossa cultura dá valor ao que é raro, o que implica que tudo que é individual, e portanto único, representa o ápice da raridade.

Dentre todos os seres vivos conhecidos, a capacidade humana de abstração faz do Homem o ápice da definição de individualidade.
Em todo o universo não existem duas vidas humanas iguais, logo, cada vida humana representa o que há de mais raro entre tudo que existe.

Extinta esta vida individual, nunca haverá outra como aquela, em nenhum outro tempo ou lugar, representando a extinção de todo um microcosmo impossível de ser reconstituído.

Para mim, isto já é justificativa suficiente.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Filho, meu filho

Filho, meu filho,

Assim eu o chamava quando pequeno, porque desde que nasceu ser pai se tornou a parte mais importante da minha identidade, tanto quanto ser meu filho era parte importante da tua.
Assumi então como missão sagrada conduzi-lo pelos caminhos da vida e guiá-lo pela trilha do BEM, até o dia em que, senhor de seus próprios passos, pudesse caminhar seu próprio destino.

Agora que se prepara para sua formatura e já se preocupa com o vestibular, com as decisões e com os desafios de seu futuro, este dia em que escolherá por si seus caminhos vislumbra no horizonte.

Lembre-se sempre do trecho que caminhamos juntos na trilha do BEM, onde não apenas o guiei, mas também me deixei guiar pelo pequenino cuja grande alma se expressava na retidão de seu coração generoso.

Leve para sua vida adulta o espírito da criança que mesmo temendo o castigo não mentia quando perguntado sobre algo que tinha feito de errado.
Que mesmo na excitação da chegada do Natal e seus presentes tomou a iniciativa de embrulhar um de seus brinquedos para que o Papai Noel o entregasse a uma criança pobre, que precisasse mais.
Daquele que se emocionava com as histórias que eu lhe contava sobre o pai e a mãe do Papai, de cujo convívio foi apartado pelos tempos da vida, mas a quem acolheu em seu coração mesmo assim.
Do irmão amoroso, que entre uma briguinha e outra sempre esteve atento à irmãzinha tornada em melhor amiga.
Do amigo leal para com as amizades antigas e aberto às novas.
Do menino educado, que conquista a todos com um cumprimento caloroso e sincero, gentilmente oferecido sem distinção aos conhecidos que encontra.

Levo para sempre a lembrança de seus olhinhos arregalados, seu sorriso brilhante e seus bracinhos esticados pedindo que eu o segurasse e embalasse na cadência exata que o fazia dormir, que só nos dois conhecíamos.

E por isto você, filho, meu filho, que amo e de quem me orgulho, nunca se sentirá sozinho na trilha do BEM, persistirá nela, rejeitará caminhos aparentemente mais fáceis e guiará nela os que lhe forem destinados a guiar.

Filho, meu filho, meu curumim que se torna guerreiro, meu menino que se torna homem. Com fé e coragem, leve no peito a honra, a verdade, a justiça, a beleza, a liberdade, a compaixão e a esperança e seja feliz na única felicidade verdadeira que é aquela que emana destes valores.

Com todo amor do mundo,


Papai.
21 de setembro de 2009

Meus Dez Locais Religiosos Favoritos em São Paulo

Por Acauan Guajajara
Publicado originalmente em 28/02/2006, às 21:18

Certa vez escrevi sobre as Igrejas Horrorosas

de São Paulo, lamentando que o casamento feliz entre beleza e arquitetura religiosa tivesse terminado em divórcio litigioso nas construções citadas. Mas os templos de uma grande cidade nos contam mais sobre ela do que os estilos e tendências que influenciaram suas construções. Eles nos falam sobre a História, cultura, diversidade e personalidade destas metrópoles. Por isto selecionei dez locais religiosos que, na minha opinião, formam a cara de São Paulo.

1º. Mosteiro de São Bento e Basílica de Nossa Senhora da Assunção
Largo de São Bento, s/nº – Centro


Quem leu o que escrevi anteriormente sobre o Mosteiro de São Bento não se surpreendeu de encontrá-lo no topo desta minha lista. O conjunto arquitetônico (mosteiro, basílica, colégio e faculdade) se integram perfeitamente à paisagem formada pelo Largo São Bento e o viaduto Santa Efigênia – a passarela que é uma jóia da engenharia paulista. Ouvir as batidas de seu grande carrilhão nas horas cheias significa saber exatamente onde se está.

2º. Catedral da Sé
Praça da Sé - Centro


Já que falei em mostrar a cara de São Paulo, ei-la. O sisudo estilo gótico, imitando as grandes catedrais européias, a imponência da cúpula e das torres altas, a praça e edifícios à sua volta, o marco zero da cidade sob sua sombra, a maior estação de Metrô do país sob seus alicerces e as gentes que circulam por tudo isto fazem da Catedral da Sé e seus arredores um resumo do que esta cidade é. Gosto particularmente da cripta, lugar que poucos paulistanos visitam, onde estão os restos mortais do Cacique Tibiriçá e outros personagens solenes. Talvez nem todos saibam, mas o projeto original, cuja construção foi iniciada em 1913, só foi concluído recentemente, com a entrega das torres laterais visíveis na foto.

3º. Mesquita Brasil
Avenida do Estado, 5.382, Cambuci


É a primeira mesquita construída no Brasil. Mas não precisavam ter posto um luminoso enorme em frente ao prédio informando isto, o qual quebra a requintada harmonia do conjunto, já muito prejudicada pelos altos muros do entorno, erguidos depois que vândalos picharam suas paredes. Apesar destes pequenos inconvenientes, a Mesquita Brasil é um dos mais belos templos de São Paulo, com seus minaretes preservando esmeradamente a melhor herança artística do Islã.

4º. Sinagoga Beth-el
Rua Martinho Prado, 175 – Consolação


A primeira vez que vi as formas incomuns daquele prédio, a partir de certa distância nos arredores da Praça Roosevelt, de imediato pensei que devia tratar-se de uma sinagoga, mesmo à época não tendo nenhuma noção embasada de como uma sinagoga deveria parecer. Isto que é ter personalidade, identificar-se de modo correto apenas com a própria presença. A sinagoga abrigará o Museu Judaico, uma excelente oportunidade para os que quiserem conhecer mais sobre esta cultura que é uma das fontes da nossa própria.

5º. Igreja Santa Cruz das Almas dos Enforcados
Praça da Liberdade, 345 - Liberdade


Falei bastante desta igreja quando descrevi minhas observações sobre as Religiões da Liberdade, no caso o bairro onde a também chamada Igreja das Almas se encontra. Hoje ela está mais light, com camadas de tinta clara cobrindo o antigo cinzento que lhe dava uma cara tão sinistra quanto as histórias sobre as almas dos que, no passado, foram enforcados naquele local e permaneceriam circulando por ali. Mas sua principal característica é que apesar de ser uma Igreja Católica Romana, seu velário é um local de culto sincrético, onde cristianismo e cultos afros compartilham o espaço com respeito mútuo e tolerância. Pensando bem, um local onde há tolerância e respeito não pode ser tão sinistro assim.

6º. Catedral Metropolitana Ortodoxa
Rua Vergueiro, 1515 - Paraíso


O nome do bairro o torna perfeito para sediar a catedral que domina a paisagem do Paraíso. Sempre achei aquela igreja enorme, o suficiente para alojar toda a comunidade ortodoxa de São Paulo, mas li em algum lugar que é uma réplica oito vezes menor da catedral de Sofia. Esta sim deve ser enorme. Suas cúpulas douradas são um destaque, principalmente quando recuperam seu brilho, logo após as limpezas periódicas que removem delas as camadas de fuligem. Pena que a realidade urbana de São Paulo não permita que o brilho dure muito tempo.

7º. Capela Padre Anchieta
Largo Pateo do Collegio s/nº – Centro



O fato de se tratar de território Jesuíta sempre me deixa um tanto apreensivo de circular por ali, afinal um Índio não catequizado dando sopa pode inspirar a turma a querer terminar o serviço começado há quatrocentos e tantos anos. Mas, descontada esta ressalva pessoal, é sempre inspirador estar onde tudo começou, sendo o tudo referido a cidade de São Paulo. Os visitantes também podem reviver um costume antigo das Igrejas Católicas Romanas, um tanto abandonado hoje, que é a guarda de ossos de santos como relíquias. Na capela um pedaço do fêmur do padre José de Anchieta encontra-se em exposição.

8º. Federação Espírita do Estado de São Paulo
Rua Maria Paula, 140 - Bela Vista


A primeira vista o prédio da FEESP não parece a sede de uma organização religiosa. Na segunda e na terceira também não. Quem passa pelo prédio próximo à Câmara Municipal e não lê a identificação na entrada o toma por mais um conjunto de escritórios. Discreto e funcional, bem no jeitão dos espíritas. Uma vez circulei por seus corredores enquanto esperava uma amiga que fazia um curso lá. Perdi-me e fui sair num lugar onde ministravam passes. Preferi tomar os passes a admitir minha condição de perdido. Como dizem, mal não deve fazer.

9º. Catedral da Independência da Assembléia de Deus
Av. Dr. Ricardo Jafet, 214 – Ipiranga


Citei esta entre as Igrejas Horrorosas, quando a descrevi como sendo "feita de pedaços de estilos sem qualquer relação entre si e virados do avesso". Bem, foi um modo um tanto cruel de dizer a verdade. A inclui nesta lista porque, questões estéticas a parte, hoje seria difícil imaginar aquele pedaço do Ipiranga sem o seu, digamos, eclético relógio octogonal rotativo. Se bem que gostava mais dela quando era cinzenta. Parece que está na moda dar uma nova cara às igrejas sinistras as pintando em tons pastel.

10º. Santuário do Sagrado Coração de Jesus
Largo Coração de Jesus 154 – Campos Elíseos


Esta igreja é a melhor resposta aos anseios de pelo menos dois grupos. Noivas e interessados em uma aula grátis sobre estilo clássico-renascentista. Um estilo tão notavelmente perfeito em sua composição que apreciadores mais puristas se sentem intimidados em entrar e desequilibrar o conjunto. As colunatas de mármore são impressionantes, servem como a melhor via de tráfego do olhar que parte do piso ornado para os afrescos do teto, passando pelos detalhes ornamentais, lustres e pelo órgão de tubos que completa a solenidade do ambiente. Como disse alguém, a mais perfeita tradução de uma bonita igreja de São Paulo.