sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Follow me

Por Acauan Guajajara

Publicado originalmente em 11/09/2006 às 16:02




A tragédia humana advinda de cada inocente morto no Onze de Setembro não é, em si, pior que qualquer outro caso de inocentes mortos injusta e prematuramente que nos é noticiado todos os dias.

Já os significados do evento vão muito além da somatória das tragédias individuais que produziu, o que pode ser constatado pelo modo como, no mundo inteiro, pessoas distantes em todos os sentidos daquelas que morreram ignoraram esta distância para assumir seu choque e consternação diante do ocorrido.

Atribuir tal efeito às coberturas midiáticas do atentado é simplismo.
Catástrofes naturais como o tsunami de 2004 receberam cobertura tão ampla quanto os atentados terroristas e vitimaram dezenas de vezes mais pessoas, sem alcançar o nível de impacto emocional produzido pela queda das torres.

Também podem passar ao largo da análise dos significados mais profundos da questão as motivações político-ideológico-religiosas dos atentados e da reação a eles.
A recente invasão de Israel ao Líbano mexeu no mesmo vespeiro de polêmicas, produziu mais de mil mortes e foi tão noticiado quanto os atentados, sem que a aventura militar sequer chegasse perto de marcar tanto e tão profundamente as memórias quanto os aviões explodindo nas grandes torres.

O grande e verdadeiro significado do Onze de Setembro reside em seus conteúdos espirituais, humanos e universais, que unem e igualam todos nós, justamente por situarem-se acima e além das picuinhas de opinião.

Erram tremendamente os que tentam entender tais conteúdos tomando como protagonistas daquele dia o presidente dos Estados Unidos da América, George W. Bush e o líder terrorista Osama Bin Laden.
Dois outros personagens incorporaram melhor a magnitude daquele acontecimento por terem representado em um mesmo dia os extremos do espírito humano diante do sacrifício.

Mohamed Atta e William Feehan.

A lembrança do primeiro nome serve apenas como alerta para todos nós sobre o mal inerente ao fanatismo.
O sacrifício de Atta foi a apoteose de anos de dedicação, aprendizado e planejamento visando concretizar a morte de milhares de inocentes.

Já o nome de William Feehan, chefe dos bombeiros da cidade de New York, serve de inspiração a todos que acreditam na grandeza humana.
Seu supremo sacrifício foi o apogeu de uma carreira construída sobre vidas salvas, quando sua liderança, atitude e coragem trouxeram a esperança a pessoas que já a haviam perdido.

Seu exemplo torna compreensível porque tantos homens entraram nas torres abaladas para salvar vidas de estranhos, sabendo dos terríveis riscos.
Bastava naquele momento que se recusassem a entrar e teriam sobrevivido.

Mas eles entraram.
E morreram.

Porque havia pessoas precisando deles.
Porque era seu dever.
Porque eram honrados.

Porque eram bravos.

E porque seguiam William Feehan, quando este dizia simplesmente "follow me".