O Gigante Adormecido e
o Gênio na Garrafa.
Por Carlos Acauan
20 de junho de 2013
A frase do momento é o Gigante acordou.
Combina com a animação e otimismo das manifestações pacíficas.
No retrospecto até agora, um grupo inexpressivo convocou
protestos contra o aumento das tarifas de ônibus em São Paulo, a Internet
amplificou o movimento para além do controle de qualquer liderança, a onda se
espalhou pelo país e as autoridades voltaram atrás.
Mais ou menos como na historinha do Gênio na garrafa. Um cara qualquer liberta o Gênio, o Gênio o
ameaça, é contido e concede três desejos.
Tal qual o Gênio, o movimento se expandiu rápido, perdeu
liderança e ameaçou degenerar para violência sem controle. Não que a liderança
original fizesse muita falta. O Movimento Passe Livre que pleiteia a gratuidade
do transporte público é cria do Fórum Social Mundial. Aquela turma que quer construir um mundo
melhor tendo Cuba como modelo.
Assisti entrevista com um representante do MPL, um jovem mais
parecido com os que encontramos às pencas nos corredores das Faculdades de
Ciências Sociais do que com qualquer modelo de líder inspirador.
Movimento forte com liderança fraca atrai os predadores políticos
como gnus doentes atraem as hienas para a manada. Logo as rubras bandeiras
deflagradas na multidão ganharam seu minuto de visibilidade. No espírito do
momento, as tais bandeiras foram repudiadas e enfiadas no saco.
A mensagem do povo reunido nas ruas foi contundente:
A única bandeira que nos une e representa a todos é a
Bandeira do Brasil.
E fora com as bandeiras que nos dividem.
Pela primeira vez em tempos, manifestações públicas não eram
capitaneadas por interesses ideológicos mesquinhos de minorias organizadas que
falavam em nome do povo sem seu aval. Foram caladas pelo povo falando por si.
A redução das tarifas é uma pauta objetiva e justa. Quem depende de transporte público em São
Paulo tem que se submeter à humilhação de disputar lugar em um serviço ruim e caro.
O mínimo que se espera de quem administra a cidade e de quem detém a concessão
do serviço é que garantam que os usuários sejam respeitados pelo que são:
cidadãos e clientes pagantes.
O Gênio solto nas ruas ameaçou
destruir tudo, mas terminou atendendo nosso desejo e teremos ônibus, metrô e
trens a R$ 3,00 em São Paulo.
Cabe às autoridades explicar se
tal tarifa era factível por que não a mantiveram antes dos protestos e se não
por que a concederam depois.
E agora?
O Gênio voltará para a garrafa, se
rebelará contra seus libertadores ou continuará realizando nossos desejos?
Nas Mil e Uma Noites os Gênios
tinham poderes ilimitados.
E muitos viram as manifestações de
rua como solução mágica para todos os problemas brasileiros. O povo unido lutando
não por centavos, mas por direitos, abandonando a acomodação, construindo um
país melhor e mandando seu recado para os políticos.
Para que nossa Democracia saia
fortalecida deste episódio, suas lições devem ser aprendidas.
Protestos que acusam todos os
políticos não assustam os corruptos que, protegidos no anonimato genérico,
simplesmente planejarão estratégias para tirar vantagem das manifestações que
visavam denunciá-los. Logo, logo vários destes corruptos encontrarão uma
fórmula de propaganda para tentar tirar alguma vantagem dos acontecimentos.
E estejamos preparados.
Aqueles que tiveram seus
estandartes escorraçados da manifestação popular já preparam a revanche. Não admitirão tão fácil que o povo possa se
manifestar sem seu cabresto partidário.
Apesar disto, um importante recado
foi transmitido aos governantes. Se os índices de aprovação do governo são tão
bons quanto as estatísticas dão a entender, por que então toda aquela gente
saiu às ruas para protestar? Isto dará aos
partidos no poder o que pensar até 2014.
Se traduzirmos tudo que as ruas
disseram, da linguagem romântica do otimismo juvenil para um resumo objetivo, o
pedido que estamos fazendo ao Gênio é que os poderes instituídos sirvam ao povo
ao invés de se servir dele.
Esta conquista não virá num passe
de mágica.
Nenhum Gênio saído da garrafa nos
concederá como povo o que não fizermos por merecer.
As ruas podem cobrar dos políticos
um Brasil melhor, mas só poderão materializá-lo se a participação popular
incluir, mas não se restringir às manifestações pacíficas de massa.
Felizmente podemos e devemos
dispor dos meios de participação política que a democracia e a moderna
tecnologia disponibilizam para apontar problemas, propor soluções, cobrar
resultados e fiscalizar os governantes.
O Gigante desperto tem muito
trabalho a fazer.