sexta-feira, 21 de junho de 2013

O Gigante Adormecido e o Gênio na Garrafa



O Gigante Adormecido e o Gênio na Garrafa.

Por Carlos Acauan
20 de junho de 2013

A frase do momento é o Gigante acordou.
Combina com a animação e otimismo das manifestações pacíficas.
No retrospecto até agora, um grupo inexpressivo convocou protestos contra o aumento das tarifas de ônibus em São Paulo, a Internet amplificou o movimento para além do controle de qualquer liderança, a onda se espalhou pelo país e as autoridades voltaram atrás.

Mais ou menos como na historinha do Gênio na garrafa.  Um cara qualquer liberta o Gênio, o Gênio o ameaça, é contido e concede três desejos.

Tal qual o Gênio, o movimento se expandiu rápido, perdeu liderança e ameaçou degenerar para violência sem controle. Não que a liderança original fizesse muita falta. O Movimento Passe Livre que pleiteia a gratuidade do transporte público é cria do Fórum Social Mundial.  Aquela turma que quer construir um mundo melhor tendo Cuba como modelo.

Assisti entrevista com um representante do MPL, um jovem mais parecido com os que encontramos às pencas nos corredores das Faculdades de Ciências Sociais do que com qualquer modelo de líder inspirador.

Movimento forte com liderança fraca atrai os predadores políticos como gnus doentes atraem as hienas para a manada. Logo as rubras bandeiras deflagradas na multidão ganharam seu minuto de visibilidade. No espírito do momento, as tais bandeiras foram repudiadas e enfiadas no saco. 

A mensagem do povo reunido nas ruas foi contundente:
A única bandeira que nos une e representa a todos é a Bandeira do Brasil. 
E fora com as bandeiras que nos dividem.
Pela primeira vez em tempos, manifestações públicas não eram capitaneadas por interesses ideológicos mesquinhos de minorias organizadas que falavam em nome do povo sem seu aval. Foram caladas pelo povo falando por si.

A redução das tarifas é uma pauta objetiva e justa.  Quem depende de transporte público em São Paulo tem que se submeter à humilhação de disputar lugar em um serviço ruim e caro. O mínimo que se espera de quem administra a cidade e de quem detém a concessão do serviço é que garantam que os usuários sejam respeitados pelo que são: cidadãos e clientes pagantes.

O Gênio solto nas ruas ameaçou destruir tudo, mas terminou atendendo nosso desejo e teremos ônibus, metrô e trens a R$ 3,00 em São Paulo.
Cabe às autoridades explicar se tal tarifa era factível por que não a mantiveram antes dos protestos e se não por que a concederam depois.

E agora?
O Gênio voltará para a garrafa, se rebelará contra seus libertadores ou continuará realizando nossos desejos?

Nas Mil e Uma Noites os Gênios tinham poderes ilimitados.
E muitos viram as manifestações de rua como solução mágica para todos os problemas brasileiros. O povo unido lutando não por centavos, mas por direitos, abandonando a acomodação, construindo um país melhor e mandando seu recado para os políticos.

Para que nossa Democracia saia fortalecida deste episódio, suas lições devem ser aprendidas.

Protestos que acusam todos os políticos não assustam os corruptos que, protegidos no anonimato genérico, simplesmente planejarão estratégias para tirar vantagem das manifestações que visavam denunciá-los. Logo, logo vários destes corruptos encontrarão uma fórmula de propaganda para tentar tirar alguma vantagem dos acontecimentos.

E estejamos preparados.
Aqueles que tiveram seus estandartes escorraçados da manifestação popular já preparam a revanche.  Não admitirão tão fácil que o povo possa se manifestar sem seu cabresto partidário.

Apesar disto, um importante recado foi transmitido aos governantes. Se os índices de aprovação do governo são tão bons quanto as estatísticas dão a entender, por que então toda aquela gente saiu às ruas para protestar?  Isto dará aos partidos no poder o que pensar até 2014.

Se traduzirmos tudo que as ruas disseram, da linguagem romântica do otimismo juvenil para um resumo objetivo, o pedido que estamos fazendo ao Gênio é que os poderes instituídos sirvam ao povo ao invés de se servir dele.

Esta conquista não virá num passe de mágica.
Nenhum Gênio saído da garrafa nos concederá como povo o que não fizermos por merecer.

As ruas podem cobrar dos políticos um Brasil melhor, mas só poderão materializá-lo se a participação popular incluir, mas não se restringir às manifestações pacíficas de massa.
Felizmente podemos e devemos dispor dos meios de participação política que a democracia e a moderna tecnologia disponibilizam para apontar problemas, propor soluções, cobrar resultados e fiscalizar os governantes.

O Gigante desperto tem muito trabalho a fazer.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

O Tabuleiro de Xadrez

Por Acauan Guajajara

Publicado originalmente em 16 de fevereiro de 2013, 18h45min


Se por algum destes motivos mais fáceis de encontrar na ficção, a última relíquia da civilização humana encontrada intacta por alienígenas inteligentes fosse um jogo de xadrez completo, que conclusões tirariam daquele conjunto de tabuleiro e peças?

O desenho geométrico do tabuleiro define um padrão matemático facilmente identificável.

Assim como pisos e azulejos.

Qual a probabilidade de que estes alienígenas, por mais avançados intelectualmente que fossem, deduzissem corretamente as regras do jogo de xadrez a partir da evidência material disponível?

Toda Ciência naturalista se fundamenta em observações de fenômenos. A partir das observações são desenvolvidas teorias que explicam os fenômenos observados e experimentos que testam as teorias.

A observação das peças e tabuleiro de um jogo de xadrez pode evidenciar a habilidade artesanal ou a tecnologia industrial utilizada na sua confecção. Peças torneadas por máquinas são facilmente distinguíveis de outras produzidas artesanalmente.

Pode-se tirar conclusões a partir dos materiais constitutivos das peças, se naturais ou sintéticos, avaliar sua idade através de métodos de datação e, por outros métodos, sua origem geográfica.

Ou seja, a competência técnica permite tirar muitas conclusões certas sobre o hardware do jogo de xadrez.

O problema é que nenhum método conhecido permite tirar conclusões sobre o software, a inteligência contida naquele jogo e que não é evidenciada por nenhum de seus elementos físicos constitutivos.

É impossível para quem nunca teve acesso às regras do xadrez deduzir que cavalos se movem em "L" e pulam outras peças ou que o Rei pode executar o movimento do "roque" uma única vez por partida.

Nenhuma teoria ou experimento poderia levar à reconstituição da dinâmica do jogo de xadrez a partir apenas da observação de suas peças e tabuleiro.

Se tal realidade existe para o jogo de xadrez, pode ser aplicável a outras evidências materiais que observamos e analisamos cientificamente.