segunda-feira, 29 de junho de 2009

De Novo o Mosteiro de São Bento

Publicado originalmente em 24 Fev 2006, 16:40

Passei em frente ao Mosteiro ontem e parei para ler um daqueles tótens com informações sobre o local, possivelmente para turistas e que por ser para turistas nunca parei para ler.
Mas foi legal, pois o tótem contava a história do Mosteiro, destacando que o conjunto foi construído no mesmo local onde ficava a aldeia do cacique Tibiriçá, que teve papel preponderante na fundação da cidade de São Paulo e sobre quem gosto de pensar como um possível ancestral, embora, claro, não tenha a mais remota evidência disto.
Ajudou a explicar minha simpatia pelo Mosteiro.


24 Fev 2006, 16:55

E só para constar, não voltei ao Mosteiro para encher o saco do jovem monge, como havia deixado pendente no fim do texto anterior, mas voltei para completar minhas observações.

Estava certo de que se os pedreiros livres deixaram suas assinaturas na Basílica, certamente deviam tê-la registrado no ponto culminante da Igreja que é o altar-mór.
Olhos atentos, busco em cada ponto onde esta marca poderia estar, num lugar visível a todos certamente, talvez nos vitrais ou no grande crucifixo de madeira que paira sobre o altar e... bingo.
Aos pés da imagem de Cristo no crucifixo há um entalhe ou marca muito sutil e de contornos poucos claros que lembram o suficiente o esquadro e o compasso.
Não foi fácil de perceber nem procurando com atenção, o que indica que foi colocado lá para ser reconhecido apenas por quem interessa.
Que obviamente não sou eu.

O Mosteiro de São Bento

Por Acauan Guajajara

Publicado originalmente em 2/3/2004 18:50:49





Domingo passado, 29 de Fevereiro de 2004, levei meus filhos para assistir à missa no Mosteiro de São Bento, em São Paulo.
Quer dizer, na verdade levei meus filhos para assistir ao magnífico recital de órgão e apresentação de canto gregoriano que é a missa dominical das dez.

O Mosteiro é o máximo, um dos mais belos, tradicionais e acolhedores locais religiosos de São Paulo.

Cheguei atrasado. A Basílica de Nossa Senhora da Assunção (nome oficial da igreja do Mosteiro) estava lotada.

Para minha apreensão o grande órgão de seis mil tubos estava silencioso.
A explicação veio dos paramentos roxos do celebrante e do altar-mór, a cor litúrgica do tempo da Quaresma, o que significava necas de pitibiribas de sólos de órgão nas igrejas católicas durante os quarenta dias deste período, exceto no domingo Laetare (o quarto da Quaresma).

Com o órgão calado e longe demais dos monges para ouvir o canto, dediquei-me a estudar a arquitetura interna da Igreja, cujo estilo ou mistura deles sempre me confundiu.
Não sou nenhum especialista em história da arte, mas pelo menos aprendi a reconhecer uma catedral gótica quando vejo uma.

Dentro da basílica a única coisa que reconheço é que era completamente ignorante para classificá-la.

O grande crucifixo sobre o altar-mór, as esculturas de santos e os altares laterais são barrocos, o teto com suas pinturas poderia ser chamado de neo-renascentista e eu nem arrisquei um palpite para as colunas, arcos e abóbadas da nave central.

Mas lá estava eu, admirando o conjunto lá do fim da fila, quase embaixo do portal de madeira de entrada, quando olho para cima e tenho uma visão interessante.
As pinturas das abóbadas da entrada não representavam elementos católicos tradicionais e sim um zodíaco completo ao centro, um elefante e um golfinho à esquerda, cujas inscrições em latim indicam que representam o elemento terra e o elemento água. Não fui conferir, mas certamente à direita do zodíaco duas outras figuras estão a representar o fogo e o ar.

Nunca tinha reparado naquilo nas muitas vezes que visitei o local, mas também nunca fiquei parado embaixo da porta de entrada, posição que me permitiu perceber mais dois detalhes. As abóbadas onde estavam o zodíaco e os quatro elementos estavam pintadas de azul escuro, representando um brilhante céu estrelado, igualzinho a um teto que eu já havia visto em algum lugar.
No teto sobre o centro da nave um círculo com as letras “A” e “M” sobrepostas também me pareceram muito familiares.

Não demorei muito para lembrar.

O céu estrelado é a cobertura das Lojas Maçônicas e aquelas duas letras, como pintadas, eram parecidas demais com esquadros e compassos entrecruzados do que seria esperado numa coincidência.

Motivos maçônicos ostentados no mais venerando mosteiro do país era motivo para esclarecimentos.
Terminada a missa (que acreditem ou não teve até um sermão muito legalzinho do celebrante, cheio de alfinetadas nas igrejas que vendiam solução mística para os fracassos terrenos), estava à procura de um monge que esclarecesse minhas dúvidas.

Antes, é claro, entrei na fila e comprei o famoso bolo dos monges, feito pelos próprios e vendido no mosteiro. A reputação da iguaria já a tornou mais uma atração turístico-gastronômica de São Paulo (vocês queriam o que? Aqui não tem praia).

Feita a compra, abordo um jovem monge parado no corredor, possivelmente escalado para atender chatos como eu, já que não devo ter sido o primeiro a sair de lá com vontade de fazer perguntas.

Perguntei primeiro sobre o estilo arquitetônico do mosteiro e o religioso, muito simpático e atencioso, me explicou que era chamado estilo beuronense, criado na Abadia de Beuron, Alemanha, daí o nome.

Satisfeito com a competência e paciência do anfitrião, pergunto pelo zodíaco e a representação dos quatros elementos.
A resposta do monge, certamente a versão oficial da casa, é que aquelas figuras estão lá para representar que Cristo é o senhor dos céus (zodíaco) e da natureza (os quatro elementos), com uma observação complementar de que as pinturas não tinham qualquer significado esotérico ou correlação com símbolos da Nova Era.

Não sei se ele me achou com cara de quem curte Nova Era, espero que não, mas fui em frente e perguntei das letras “A” e “M”, entrecruzadas naquele formato característico.

O monge, que parecia saber o significado de cada um dos milhares de símbolos gravados na igreja, nem pensou para responder que se tratava das iniciais de Ave Maria, bastante compreensível sendo Nossa Senhora da Assunção quem dava nome à basílica.

Percebendo que talvez o beneditino já não estivesse gostando muito do rumo que eu dava à conversa, comentei à queima roupa que a maneira como as letras estavam dispostas lembravam muito o esquadro e o compasso maçônicos.

De novo a negativa pronta e firme, firme o suficiente por sinal. Resolvi parar por ali (por enquanto) e me despedi do monge que cumprimentou meu filho com um daqueles apertos de mão cheio de coreografias que gente da minha idade não conhece e que eu pensei que o claustro beneditino não ensinasse.

Apesar disto meu professor de beneditinologia não me convenceu. Posso não entender bulhufas de estilo beuronense, mas se o elefante e o golfinho tem alguma coisa a ver com Cristo eu sou o general Custer.

Depois do Mosteiro, levei meus filhos ao Pátio do Colégio, centro e marco da fundação de São Paulo, mas esta é história para outro dia, já que em sendo lá território dos Jesuítas fiquei apreensivo com a possibilidade de um deles me reconhecer como Índio não catequizado e resolver completar o serviço.

Mais tarde, para checar as respostas do iluminado monge, recorro ao abençoado google. Digito beneditinos e maçonaria. As respostas vêm aos montes. Uma das referências, me chama a atenção:

Já em plena Idade Média, antes de aparecer a Maçonaria Operativa ou Maçonaria de Ofício, entrando em evidência a Arte Gótica, quando começaram a ser construídos muitos conventos igrejas catedrais e palácios, neste período foram importantes as Associações Monásticas principalmente constituídas pelos Beneditinos e Cistercences, que eram clérigos, experientes projetistas e geômetras, excelentes oficiais na arte de construir. Dominaram o segredo da construção por muito tempo, o qual ficou inicialmente restrito aos conventos
...
Entretanto eram obrigados a contratar profissionais leigos, pois a demanda cada vez maior de construções e serviços secundários assim o exigia. Estes profissionais foram aprendendo com estes clérigos e com o tempo em face da decadência da fase Monástica, constituíram as Confrarias Leigas....Os Beneditinos (Ordem de São Bento fundada por São Bento em 529 D.C. e os Cistercences os monges de Císter- França (fundada em l098 pelo abade De Molesme) são considerados por vários autores como os ancestrais da Maçonaria Operativa,

MAÇONARIA CONTEMPORÂNEA - ABORDAGEM HISTÓRICA
Hercule Spoladore – Loja de Pesquisas Maçônicas “BRASIL”-LONDRINA-Pr

Espero que o jovem monge seja tão simpático e paciente quanto me pareceu. Ele vai ter muito que me explicar no próximo domingo Laetare.






A Fé na Mulher Amada

Por Acauan Guajajara

Publicado originalmente em 3/12/2004 20:59:41

De tudo em que acredito,
e tenho dito,
do que sinto,
e não digam que isto é nada,
a fé na mulher amada,
aquela e ela,
esperada,
é a única que salva,
alma,
coração
e oração.

Uma noite, quase madrugada,
a fé na mulher amada,
repito,
e tenho dito,
é a única que salva,
alma,
em uma noite,quase madrugada,
balada,
a fé na mulher amada,
e tocada,
é a única que salva,
beijada.

Pôr do sol,
tarde nublada,
beijada,
quase tudo em quase nada,
esperada.

Volte pôr do sol, se mostre,
sorte,
consorte,
para o sem o quase, madrugada,
beijada,
e o tudo,
que o quase pôs desnudo,
amada,
quase tudo em quase nada,
beijada,
e uma futura madrugada,
é tudo,
esperada,
a fé na mulher amada,
alma,
é a única que salva.

O Inverno do Nosso Descontentamento

Por Acauan Guajajara

Publicado originalmente em 1/05/2006, às 22:30

Ó inverno do nosso descontentamento
foi convertido agora em glorioso verão por este sol de York, e todas as nuvens que ameaçavam a nossa casa estão enterradas no mais interno fundo do oceano
...
Pois eu, neste ocioso e mole tempo de paz, não tenho outro deleite para passar o tempo afora o espiar a minha sombra ao sol e cantar a minha própria deformidade.

William Shakespeare, RICARDO III, ato I, cena I

Uma das grandes aflições da condição humana é a distância abissal que separa nossas aspirações, potencialmente ilimitadas, de nossa capacidade de realizá-las, restrita às possibilidades finitas de nossos recursos e tempo de vida.

Como espécie, somos virtualmente imortais e as culturas e civilizações que criamos nos permitem acumular conhecimento e recursos ao longo de gerações e assim ampliar continuamente nossas capacidades de realização.

Mas a satisfação reside no indivíduo e não na espécie.

Como Ricardo, que contempla o triunfo da casa de York e expressa seu rancor por suas imperfeições o intimidarem de usufruir o advindo verão da vitória, também nós, ao contemplarmos as realizações da Grandeza Humana do ponto de vista de nossas finitudes, nos recolhemos ao espiar de nossas sombras e retornamos ao inverno do nosso descontentamento.

A religião oferece a fé na infinitude do indivíduo, mas se oferece o meio, retira o fim. A eternidade prometida realiza o propósito de Deus e não os propósitos humanos. Se Ricardo III expiasse suas muitas culpas e alcançasse o paraíso prometido pelo Cristianismo ou pelo Islã se veria livre de suas deformidades e pronto para o deleite no glorioso verão. Só que não seria a glória da casa de York, de sua casa.

A frustração da glória sem deleite seria substituída pelo deleite na glória alheia.

domingo, 28 de junho de 2009

Santa Croce, o Triunfo do Espírito

(Estudo Nº 1 para conclusão da série Considerações sobre o espiritual)
Publicado originalmente em 2/11/2004 15:55:30

por Acauan Guajajara


nulli aetatis suae comparandu
(Inscrição no túmulo de Galileo Galilei, Basílica de Santa Croce, Florença, Italia)

Numa primeira vista, a Basílica de Santa Croce, em Florença na Itália, não causa deslumbramento. Ofuscada pela onipresença imponente da catedral Duomo, a construção gótica parece ser mais uma igreja entre tantas da gloriosa cidade toscana.

Basta adentrá-la para mudar de idéia.

Como uma lufada de luz, a grandeza humana sopra e ilumina o visitante que se depara com as tumbas e monumentos fúnebres que o velho templo abriga.
Os nomes falam por si só: Michelangelo Buonarroti, Dante Alighieri, Nicolau Maquiavel, Giacomo Rossini, Galileo Galilei, Guglielmo Marconi, Enrico Fermi e muitos outros.

As inscrições nas lápides fazem mais do que identificar:

Galileo Galilei, geômetra, astrônomo, filósofo, matemático, incomparável em seu tempo...

Michelângelo Buonarroti, escultor, pintor e arquiteto, fama omnibus notissimo...

Nicolau Maquiavel, tanto nomini nullum par elogium.

A inscrição na tumba de Maquiavel poderia ser repetida em todas as outras: - Tão grande nome, nenhum elogio alcança.

Santa Croce nos lega uma mensagem.

Aqueles homens estão mortos, e mesmo assim caminham conosco pelos corredores da vecchia chiesa, erguem nosso olhar com seus braços apontando o adiante, enquanto nos dizem – continuem nossa obra, sigam em frente, descubram a verdade, aprendam a justiça, criem o belo, sede corajosos e alcancem o BEM.

Em Santa Croce, os altares erguidos para celebrar a memória de um Messias ressurrecto aceitam resignados o papel de coadjuvantes, diante da memória celebrada de outros que venceram a morte, mesmo que imersos em seu sono.
Nos ensinando e lembrando que existe transcendência na condição humana. Nossa descendência, nossa obra, nosso ideal. O amor que motivamos e a memória que construímos.

O heroísmo de nossos bravos, o brilho de nossos sábios e a poesia de nossos bardos não morre.
O triunfo do espírito humano vive.Em Santa Croce e em cada um de nós.