Por Acauan Guajajara
Publicado originalmente em Janeiro 2003
No último rito anual que fiz com meus filhos na mata, quando rememoramos nossas tradições ancestrais, eu falei a eles sobre meu pai, falecido antes que nascessem.
Disse-lhes que ele foi um valoroso guerreiro, um grande abaetê (homem honrado) e um sábio cacique.
Meu filho mais velho, de oito anos, ouviu a história com atenção enquanto eu notava que a tristeza tomava o seu semblante.
- O que foi, meu filho? Perguntei.
- Por que todo mundo tem que morrer? Disse ele, me dando por resposta a mais solene das perguntas.
O olhar do curumim buscou os meus olhos, certo de que no pai encontraria todas as respostas. Naquele momento, eu não poderia falhar.
- A natureza é feita de tempos filho. Disse ao curumim.
- Como assim?
- O tempo de meu pai é passado, um dia será passado o meu e ao seu tempo sucederá o do seu filho. Respondi.
Minha explicação não tirara de seus olhos a expressão triste. Então prossegui.
- Meu pai vive em meu coração. Agora que lhe falei sobre ele, um dia, meu pai e eu viveremos no teu. Fale de nós ao teu filho, e um dia, nós três, seu avô, eu e você, viveremos no coração dele.
Meu filho olhou para mim, seus olhos brilharam numa lágrima. Ele havia entendido. O pequeno curumim um dia será um valoroso guerreiro, um grande abaetê e um sábio cacique.
E eu viverei no coração dele.
quarta-feira, 15 de abril de 2009
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