sábado, 9 de agosto de 2025

 O paradoxo do Paraíso Cristão

Por Carlos Acauan
Publicado originalmente em 08/08/2025
 
Eiecitque Adam et conlocavit ante paradisum voluptatis cherubin et flammeum gladium atque versatilem ad custodiendam viam ligni vitae
 
E havendo lançado fora o homem, pôs anjos ao oriente do Jardim do Éden, e uma espada flamejante andava ao redor, para guardar o caminho da árvore da vida.
 
Gênesis 3:24

Gènesis 3:24

Segundo a doutrina cristã, após a morte de cada ser humano virá o julgamento divino, quando Jesus de Nazaré em pessoa será o juiz que separará as ovelhas dos bodes (Mateus 25:31-33) e conduzirá as ovelhas (cristãos) para onde não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor (Apocalipse 21:4) e os bodes (todos os demais) para onde o verme que os rói nunca morre e o fogo nunca se apaga (Marcos 9:44).
 
Blaise Pascal achou que isso era motivo suficiente para ser cristão.
 
Para os nãos cristãos fica a dúvida: “o que fizemos prá sermos queimados e roídos per saecula saeculorum, enquanto as tais ovelhas ficam no bem bom? ”
 
A doutrina cristã responde que Deus determinou a salvação da Humanidade através do sacrifício de Jesus Cristo, em resgate pelo pecado original de Adão e Eva, salvação exclusiva para aqueles que aceitaram este sacrifício (2 Coríntios 5:21).
 
Gênesis 3:24 e 2 Coríntios 5:21 definem um ciclo que descreve como os humanos são expulsos do Paraíso e retornam a ele.
 
E definem um paradoxo.
 
O que impede de os humanos serem expulsos do Paraiso uma segunda vez?
 
Se os humanos foram expulsos do Paraíso uma vez por pecar, podem ser expulsos do Paraíso por pecar uma segunda vez.
 
Qualquer argumento de que os salvos em Cristo não poderão pecar por serem salvos em Cristo determina que os salvos em Cristo não terão livre arbítrio, enquanto a doutrina cristã, com exceção das vertentes calvinistas, determina que o livre arbítrio estabelecido por Deus permitiu o pecado que levou à queda da humanidade e à necessidade do sacrifício vicário.

Neste ponto define-se o paradoxo da doutrina da salvação.
Com a exceção já citada dos calvinistas, que defendem que Deus é um sádico que criou bilhões de humanos sem livre arbítrio, com a intenção exclusiva de torturá-los eternamente, enquanto poupava e concedia regalias a uma meia dúzia de três ou quatro selecionados arbitrariamente.

Desconsiderada esta exceção, o Plano Salvífico, como os crentes gostam de chamar, resulta em um potencial looping infinito, no qual a humanidade cai em perdição pelo uso pecaminoso do livre arbítrio, é resgatada pelo sacrifício simbólico do próprio Deus em uma de suas pessoas, os que creem neste sacríficio simbólico são salvos e conduzidos ao Paraíso onde, se exercerem seu livre arbítrio pode acontecer tudo de novo.

O looping só pode ser evitado se o livre arbítrio humano não existir, mas se existia a opção do não livre arbítrio, esta opção poderia ter sido aplicada já no Éden, evitando toda esta bagunça.

 
Paradoxo.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

LOGUS

Por Carlos Acauan

Tanto intuitiva, quanto racionalmente, é bastante óbvio que a realidade apresenta um nexo autoevidente que a torna inteligível. 
Este nexo dá sustentação ao pensamento lógico e ao método científico. 

Nem a lógica, nem a ciência podem demonstrar que o nexo seja um atributo necessário da realidade. 

Na Teologia, é o Logus Divino que cria o nexo da realidade. 
Na ilustração doutrinária, o Logus Divino "se fez carne e habitou entre nós". Uma frase que explica um bocado de coisas, desde que não se cobre evidências ou experimentação.
Quando se rejeita, a priori, a tese teológica do Logus Divino, fica a pergunta sobre a origem e natureza do nexo da realidade. 

Todo mundo já ouviu cientistas explicando que as leis da Física surgiram no Big Bang, mas se é fácil imaginar flutuações quânticas inflacionando e expandindo partículas energizadas, não o é nem um pouco teorizar como ou porque esta bagunça produziria leis matemáticas. Trabalhar estas questões neste nível pode dar elegância ao pensamento ateísta, enquanto fugir delas para discutir bobagens é, quando muito, apenas passatempo divertido.

terça-feira, 14 de julho de 2015

Breves sobre História, Guerra e Moral

Por Carlos Acauan

A Guerra do Paraguai teria sido injusta se os inicialmente invadidos fossem eles. O que houve foi o contrário, com o Rato que Ruge bancando o gostosão e tomando o que tomou no final da aventura. 

 ********** 

E o que o Papa não disse e espero que saiba, é que se morreu tanta gente na Guerra do Paraguai, principalmente paraguaios, foi porque no quartil final da guerra, já com o Paraguai invadido e Asunción capturada, Solano Lopez levou suas forças para o interior do país e iniciou uma guerra de guerrilhas, sem a menor chance de sair vitoriosa, mas na qual ele se dispôs a sacrificar as vidas de seus governados aos montes com o único intuito de prolongar sua posição de Tirano da Aldeia. Os que acusam o nobre Caxias de ser perpetrador de massacres não sabe ou finge não saber que a posição do Duque e general comandante era que a Guerra deveria terminar com a conquista da capital inimiga, o que para Caxias era suficiente para vingar o ultraje contra o Império. D. Pedro II foi sabiamente contra e decretou que a Guerra só terminaria com a destituição, exílio ou morte de Solano Lopez. Se o ditador tivesse se rendido naquele momento da Guerra, dezenas de milhares de vidas paraguaias teriam sido poupadas. Só que o cara não tava nem aí para as vidas dos paraguaios e quem leva a culpa é o Império. 

 ********** 

Geralmente a guerra é justa e razoável do ponto de vista do lado agredido. Do ponto de vista dos Aliados, a Segunda Guerra Mundial foi justa. Houve também Guerras iniciadas para derrubar ditadores sanguinários. A Tanzânia invadiu Uganda para derrubar Idi Amin Dada. Mesmo que houvesse outros interesses por trás da invasão, foi um caso no qual o país agredido saiu beneficiado por se livrar de um genocida no poder. E tem aquelas batalhas, que não podem ser chamadas exatamente de Guerra, mas são casos no qual uma nação inicia um combate por uma causa inegavelmente moral, como quando a Marinha Real levantou suas armas para varrer dos mares o tráfico de escravos. 

 **********

Os ingleses não eram santos e nem fingiam sê-lo. Mas se havia algum lucro em acabar com a escravidão, haveria muito mais na época em monopolizá-la, coisa que a Royal Navy poderia facilmente garantir para os escravagistas britânicos (e os havia) se a intenção fosse apenas esta. Uma das falsidades dos revisionistas modernistas é negar que decisões históricas pudessem ter motivações morais e sempre haveria interesses escusos por trás. Isto é idiota. Motivações morais são influências fortíssimas nos indivíduos e por extensão no rumo da História. Se há muita sujeira nas relações políticas, vez ou outra alguém aparece e faz algo grandioso, como defender que todo Homem tem direito inalienável à Busca da Felicidade ou discursar sobre um Sonho no qual o Caráter prevalece sobre a Cor e mudar o rumo de uma Nação. 

 ********** 

Mais um mérito na conta do Grande Caxias. A Farroupilha só terminou assim porque o general Lima e Silva venceu os gaúchos no campo de batalha e lhes ofereceu em seguida uma rendição honrosa, inclusive incorporando revoltosos no Exército Imperial. O Homem não foi chamado de O Pacificador por acaso... Prá se ter uma ideia, quem já ouviu falar de um grupo derrotado em uma guerra civil que presta homenagem ao comandante das forças contra as quais lutaram? Bem... A cidade de Caxias do Sul tem este nome por causa deste tipo único de homenagem. Ninguém vai encontrar uma cidade com o nome de Getúlio Vargas no Estado de São Paulo... 

 ********** 

Ainda sobre os Farrapos, eles usaram o mesmo tipo de Guerrilha Rural que os Uruguaios usaram dez anos antes. Se os uruguaios ganharam, os gaúchos também poderiam ter vencido, uma vez que combater guerrilhas que contam com o apoio da população local é dificílimo quando as tropas oficiais respeitam os civis. Claro que há os senão e poréns, como a intervenção da Argentina no caso da Banda Oriental. Mas o decisivo foi a diferença dos comandos. Bento Gonçalves era um líder carismático, mas não não dava nem pro cheiro contra Caxias em estratégia militar. 

 **********

A derrota da Confederação na Guerra Civil Americana foi tão arrasadora que Washington impôs uma série de medidas visando acabar com o que restou da cultura do Velho Sul, incluindo medidas para integrar os negros àquela sociedade. O resultado foi a explosão de atos terroristas que deixaram claro que os brancos prefeririam exterminar a população negra um linchamento de cada vez do que aceitar a integração imposta. Washington recuou e os Direitos Civis só voltaram à pauta no Sul cem anos depois. 

 ********** 

O argumento de que a escravidão caiu por motivações exclusivamente econômicas é bobo. Roma nasceu, ascendeu e caiu como sociedade escravagista e nunca viu a mais mínima vantagem em abolir ou mesmo abrandar a escravidão. Pelo contrário, a certa época o Império queria conquistar terras mais pela mão de obra que poderia obter de graça do que pelo expansionismo propriamente dito. Se a escravidão fosse economicamente inviável, em quase mil anos de República e Império Romano alguém teria percebido isto. Aí poderiam dizer que isto valia para meios primitivos de produção, mas não para a era Industrial, quando surgiram os movimentos abolicionistas. Oras bolas, quando aboliram a escravidão no Brasil ou no Sul dos Estados Unidos, as plantações de cana de açúcar aqui e de algodão lá não eram assim tão diferentes do que deveria ser a produção agrícola romana. Os avanços das técnicas agrícolas neste intervalo - inegáveis - na época da abolição não haviam mudado nem um pouco o aspecto 100% manual das colheitas das culturas citadas, mesmo que depois o algodão fosse descaroçado mecanicamente. No mais, para o escândalo dos militantes, os primeiros abolicionistas eram cristãos fundamentalistas, como os Quakers, primeiros senhores de escravos nos Estados Unidos a libertá-los por iniciativa própria. Não tinham tantos escravos assim, mas valeu a intenção. A Esquerda nega o fator moral como historicamente decisivo porque defende que só a Luta de Classes é libertadora. Para negar isto, basta verificar que depois do Império Romano a grande nação que mais explorou o trabalho escravo foi a Rússia Stalinista.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

A Filosofia Cristã e a Invenção Intelectual do Indivíduo


Por Acauan

Não foi a Filosofia Cristã que inventou o Indivíduo, mas este conceito praticamente não existia nas Filosofias e Doutrinas Espirituais do Oriente.  No Budismo e Hinduísmo, por exemplo, a ideia de Consciência Individual é quase que uma anomalia na Harmonia do Cosmos e o anseio principal da alma ao reencarnar é dissolver-se no Nirvana.

No Civismo Romano, um Homem era a posição que ocupava na Sociedade.  A única igualdade possível entre um Patrício Romano e um escravo era o fato de ambos serem mortais.

Os Gregos Socráticos entendiam perfeitamente o conceito de Indivíduo, mas Platão se perdeu um tanto na Analogia da Caverna, onde o mundo que vemos são apenas sombras da Realidade, enquanto Aristóteles estava mais preocupado com Física e Metafísica, em entender o Universo externo a ele próprio.

São a Escolástica e o Tomismo que reinterpretam a Filosofia de Platão de modo revolucionário.
Ao invés de entender que tudo que percebemos são apenas sombras de um mundo real superior, a Filosofia Cristã dividiu esta Realidade em mundo material, apreensível pelos sentidos e um Mundo Espiritual, fora de nossa percepção.
Até aí, em nada diferente de praticamente todas as Mitologias Religiosas.

A novidade é que no centro destes dois mundos a Filosofia Cristã colocou o Indivíduo Humano, capaz de entender o Mundo Natural pela inteligência e o Mundo Espiritual pela Fé.  
Com isto, o Homem era reposicionado da periferia da Realidade, onde era apenas um observador iludido para quem a Verdade se situava em algum ponto inalcançável à consciência do mortais.
O Indivíduo Humano passava a ser o ponto focal de toda Realidade, que ao olhar para baixo podia compreender por si as coisas da Terra e pela inspiração divina era capaz de vislumbrar os Céus. 
Daí o sentido da máxima de Santo Agostinho "Intellige ut credas, crede ut intelligas", entender para crer e crer para entender.

Temos aí a sacralização do Indivíduo, resumido na Teologia Cristã no Princípio do "Homem Sozinho Perante Deus". O Homem dotado de alma imortal própria, cujo conteúdo da alma é construído por suas decisões, independente de quaisquer fatores externos.

O princípio da sacralização do Indivíduo Humano é a base de toda Moral do Ocidente e fundamento das Democracias Modernas.  Os que negam este Princípio e apontam o Iluminismo, particularmente o Iluminismo Francês, como uma ruptura com os conceitos medievais desconhecem, ou fingem desconhecer, que a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão não fariam o menor sentido em uma sociedade na qual o reconhecimento do indivíduo já não estivesse arraigada em sua Cultura.  Não por acaso o Iluminismo se deu na Europa e não na Índia, China ou Japão.

Os que acham que as ideologias revolucionárias materialistas são moderninhas não entendem ou não querem entender que sua visão da condição humana nada mais é que um retrocesso de dois mil anos. 
Ao deslocar o Indivíduo do centro de convergência da Realidade e substituí-lo pela "Sociedade", "Classe", "Nação" ou "Raça", coletivos abstratos sem consciência, tudo que fazem é reduzir este indivíduo a nada mais ou melhor que um animal mais esperto que os outros ou a espécimes sobre os quais a evolução natural e social (História) atuam sem que cada espécime por si só tenha alguma importância em particular.

Não é difícil concluir como este reposicionamento do Indivíduo leva inevitavelmente ao colapso moral, o que implica que, gostem ou não os Modernos, as possibilidades Humanas - sejam quais forem - ainda estão mais seguras se ancoradas na visão da Filosofia Cristã do que nas alternativas ideológicas disponíveis.

domingo, 30 de março de 2014

Metafísica Básica III - O Imperativo Ontológico

Metafísica Básica III - O Imperativo Ontológico 

Por Acauan 

O que é, é, sendo impossível ao que é, não ser. 

Podemos chamar este princípio, justificado por autoevidência, de Imperativo Ontológico. 

Os antigos hebreus o identificaram intuitiva e teologicamente ao registrar um Deus que se identificava como "Eu Sou!", a afirmação pessoal do Imperativo Ontológico. 

Aristóteles o deduziu filosoficamente nas conhecidas regras da Identidade, Não Contradição e Terceiro Excluso. 

A Modernidade criou o Relativismo, a negação do Imperativo Ontológico que prega que o que é pode não ser. Assim como o Imperativo Ontológico se afirma por autoevidência, o Relativismo se nega pela autocontradição (se o que é pode não ser, isto inclui este princípio, que assim, deixa de sê-lo).

sexta-feira, 21 de junho de 2013

O Gigante Adormecido e o Gênio na Garrafa



O Gigante Adormecido e o Gênio na Garrafa.

Por Carlos Acauan
20 de junho de 2013

A frase do momento é o Gigante acordou.
Combina com a animação e otimismo das manifestações pacíficas.
No retrospecto até agora, um grupo inexpressivo convocou protestos contra o aumento das tarifas de ônibus em São Paulo, a Internet amplificou o movimento para além do controle de qualquer liderança, a onda se espalhou pelo país e as autoridades voltaram atrás.

Mais ou menos como na historinha do Gênio na garrafa.  Um cara qualquer liberta o Gênio, o Gênio o ameaça, é contido e concede três desejos.

Tal qual o Gênio, o movimento se expandiu rápido, perdeu liderança e ameaçou degenerar para violência sem controle. Não que a liderança original fizesse muita falta. O Movimento Passe Livre que pleiteia a gratuidade do transporte público é cria do Fórum Social Mundial.  Aquela turma que quer construir um mundo melhor tendo Cuba como modelo.

Assisti entrevista com um representante do MPL, um jovem mais parecido com os que encontramos às pencas nos corredores das Faculdades de Ciências Sociais do que com qualquer modelo de líder inspirador.

Movimento forte com liderança fraca atrai os predadores políticos como gnus doentes atraem as hienas para a manada. Logo as rubras bandeiras deflagradas na multidão ganharam seu minuto de visibilidade. No espírito do momento, as tais bandeiras foram repudiadas e enfiadas no saco. 

A mensagem do povo reunido nas ruas foi contundente:
A única bandeira que nos une e representa a todos é a Bandeira do Brasil. 
E fora com as bandeiras que nos dividem.
Pela primeira vez em tempos, manifestações públicas não eram capitaneadas por interesses ideológicos mesquinhos de minorias organizadas que falavam em nome do povo sem seu aval. Foram caladas pelo povo falando por si.

A redução das tarifas é uma pauta objetiva e justa.  Quem depende de transporte público em São Paulo tem que se submeter à humilhação de disputar lugar em um serviço ruim e caro. O mínimo que se espera de quem administra a cidade e de quem detém a concessão do serviço é que garantam que os usuários sejam respeitados pelo que são: cidadãos e clientes pagantes.

O Gênio solto nas ruas ameaçou destruir tudo, mas terminou atendendo nosso desejo e teremos ônibus, metrô e trens a R$ 3,00 em São Paulo.
Cabe às autoridades explicar se tal tarifa era factível por que não a mantiveram antes dos protestos e se não por que a concederam depois.

E agora?
O Gênio voltará para a garrafa, se rebelará contra seus libertadores ou continuará realizando nossos desejos?

Nas Mil e Uma Noites os Gênios tinham poderes ilimitados.
E muitos viram as manifestações de rua como solução mágica para todos os problemas brasileiros. O povo unido lutando não por centavos, mas por direitos, abandonando a acomodação, construindo um país melhor e mandando seu recado para os políticos.

Para que nossa Democracia saia fortalecida deste episódio, suas lições devem ser aprendidas.

Protestos que acusam todos os políticos não assustam os corruptos que, protegidos no anonimato genérico, simplesmente planejarão estratégias para tirar vantagem das manifestações que visavam denunciá-los. Logo, logo vários destes corruptos encontrarão uma fórmula de propaganda para tentar tirar alguma vantagem dos acontecimentos.

E estejamos preparados.
Aqueles que tiveram seus estandartes escorraçados da manifestação popular já preparam a revanche.  Não admitirão tão fácil que o povo possa se manifestar sem seu cabresto partidário.

Apesar disto, um importante recado foi transmitido aos governantes. Se os índices de aprovação do governo são tão bons quanto as estatísticas dão a entender, por que então toda aquela gente saiu às ruas para protestar?  Isto dará aos partidos no poder o que pensar até 2014.

Se traduzirmos tudo que as ruas disseram, da linguagem romântica do otimismo juvenil para um resumo objetivo, o pedido que estamos fazendo ao Gênio é que os poderes instituídos sirvam ao povo ao invés de se servir dele.

Esta conquista não virá num passe de mágica.
Nenhum Gênio saído da garrafa nos concederá como povo o que não fizermos por merecer.

As ruas podem cobrar dos políticos um Brasil melhor, mas só poderão materializá-lo se a participação popular incluir, mas não se restringir às manifestações pacíficas de massa.
Felizmente podemos e devemos dispor dos meios de participação política que a democracia e a moderna tecnologia disponibilizam para apontar problemas, propor soluções, cobrar resultados e fiscalizar os governantes.

O Gigante desperto tem muito trabalho a fazer.

sábado, 16 de fevereiro de 2013

O Tabuleiro de Xadrez

Por Acauan Guajajara

Publicado originalmente em 16 de fevereiro de 2013, 18h45min


Se por algum destes motivos mais fáceis de encontrar na ficção, a última relíquia da civilização humana encontrada intacta por alienígenas inteligentes fosse um jogo de xadrez completo, que conclusões tirariam daquele conjunto de tabuleiro e peças?

O desenho geométrico do tabuleiro define um padrão matemático facilmente identificável.

Assim como pisos e azulejos.

Qual a probabilidade de que estes alienígenas, por mais avançados intelectualmente que fossem, deduzissem corretamente as regras do jogo de xadrez a partir da evidência material disponível?

Toda Ciência naturalista se fundamenta em observações de fenômenos. A partir das observações são desenvolvidas teorias que explicam os fenômenos observados e experimentos que testam as teorias.

A observação das peças e tabuleiro de um jogo de xadrez pode evidenciar a habilidade artesanal ou a tecnologia industrial utilizada na sua confecção. Peças torneadas por máquinas são facilmente distinguíveis de outras produzidas artesanalmente.

Pode-se tirar conclusões a partir dos materiais constitutivos das peças, se naturais ou sintéticos, avaliar sua idade através de métodos de datação e, por outros métodos, sua origem geográfica.

Ou seja, a competência técnica permite tirar muitas conclusões certas sobre o hardware do jogo de xadrez.

O problema é que nenhum método conhecido permite tirar conclusões sobre o software, a inteligência contida naquele jogo e que não é evidenciada por nenhum de seus elementos físicos constitutivos.

É impossível para quem nunca teve acesso às regras do xadrez deduzir que cavalos se movem em "L" e pulam outras peças ou que o Rei pode executar o movimento do "roque" uma única vez por partida.

Nenhuma teoria ou experimento poderia levar à reconstituição da dinâmica do jogo de xadrez a partir apenas da observação de suas peças e tabuleiro.

Se tal realidade existe para o jogo de xadrez, pode ser aplicável a outras evidências materiais que observamos e analisamos cientificamente.