domingo, 11 de setembro de 2011

O meu 11 de setembro de 2001

Por Acauan Guajajara
Publicado originalmente em 11 de setembro de 2011

A geração anterior à minha demonstrava o quanto determinados eventos marcam a memória com a pergunta "Onde você estava quando soube que John Kennedy foi assassinado"?
Era sabido que o perguntado se lembraria dos detalhes do momento.

Na manhã de 11 de setembro de 2001 eu estava em meu trabalho.
Um amigo comentou após o protocolar bom dia que um avião havia batido no World Trade Center.
Lembrei-me de imediato do acidente no qual uma aeronave militar chocou-se com o Empire States em 1945 e pensei que o improvável se repetira, algo como um raio caindo duas vezes no mesmo lugar.

Como não estavamos em 1945, acessei na Internet o "Últimas Notícias do UOL" para saber mais detalhes do que imaginava ser apenas um desastre aéreo urbano.
Em poucos segundos uma avalanche de manchetes deixava claro que no intervalo entre a hora que acordei e a presente o mundo havia sido virado de cabeça para baixo.

As informações instatâneas desta nova era fluíam tão rápido que era impossível distinguir os fatos dos boatos. Textos rápidos falavam sobre bombas no capitólio, evacuação da Casa Branca, possibilidade de os Estados Unidos declararem guerra (sem especificar contra quem) e todo tipo de especulação.

Aos poucos ficava claro que testemunhavamos um momento histórico. Fosse o que fosse que estivesse acontecendo, era coisa séria, muito séria.

Logo em seguida à primeira leitura das notícias na web minha esposa me ligou chocada para contar o que viu nas edições extraordinárias dos telejornais, ainda tão repletas de especulações e espanto quanto suas versões informatizadas.

A rotina de trabalho foi completamente abandonada.
A cada segundo o Últimas Notícias do UOL montava o cenário assombroso envolvendo as duas torres, o Pentágono e um terceiro avião sequestrado. Especulava-se que uma dezena de aviões ou mais poderia estar seguindo para alvos diversos.
Entre tanta informação incerta, despertou dúvida aquela que dizia que todo os aviões em espaço aéreo americano receberam ordem para aterrisar e todos os vôos destinados aos Estados Unidos deveriam ser desviados para aeroportos próximos.

Minha esposa ligou novamente.
A voz antecipava a gravidade do momento.
- A torre está desabando! Está desabando!

Deixei minha sala e fui para o setor de treinamento onde havia um aparelho de TV (em 2001 a transmissão de imagens via web era lenta demais).

Ao ligar na CNN o título no rodapé da tela resumia o que nunca esqueceríamos: America under attack.

Ver a primeira torre se desintegrando em uma nuvem de poeira (ninguém vai lembrar, mas isto remete a um episódio de O Tunel do Tempo, que tinha tudo a ver) deixava claro que fosse quem fosse que tivesse feito aquilo, seu objetivo havia sido atingido.

Ver as torres caindo em tempo real era a mais completa tradução do terror.
Terror reforçado pelas especulações dos jornalistas, que citaram que naquela hora de um dia útil poderia haver até quarenta mil pessoas nas torres.

Ser testemunha ocular da morte de quarenta mil seres humanos não é sensação que se assimile prontamente.

Minha esposa ligou mais uma vez.
Entre expressões mútuas de espanto, resumi tudo em uma frase:
"Nunca pensei que nossa geração veria o seu Pearl Harbour".

Por ironia do destino, na tarde de 11 de setembro de 2001 me dirigi ao aeroporto de Congonhas. Embarcaria para Porto Alegre onde tinha uma palestra programada para o dia seguinte.

Na sala de embarque, as TV's exibem uma repetição sem fim das imagens de aviões explodindo. Nada animador para quem vai embarcar em um.
Sigo para pista e encaro o fokker 100 da TAM. Quem conhece o histórico deste modelo entende o quanto o receio esperado em dias normais podia ser amplificado naquele.
E a cereja do sunday. Seguindo o ritual da TAM, a tripulação que recebe os passageiros tem como comandante um piloto nissei (ou sansei, ou nãosei).
No dia dos eventos mais chocantes envolvendo aviões eu estava entrando em um avião suspeito pilotado por um profissional certamente confiável, mas que naquele momento em especial eu lia "kamikaze" escrito na testa dele.

Acordei em 12 de setembro de 2001 em um hotel de Porto Alegre.
Liguei a TV e sintonizei no canal de notícias.
Assisto ao vivo a entrevista de Rudolph Giuliani, então prefeito de Nova York sobre os ataques.
Perguntam a Rudy se o WTC seria reconstruído.
Espero uma resposta evasiva, do tipo "é muito cedo para..."

Giuliani não hesitou um segundo e respondeu: "É claro que iremos reconstruir. Tudo que os terroristas conseguirão é que saiamos disto ainda mais fortes".

Dez anos depois, enquanto escrevo isto, o novo World Trade Center se ergue mais de oitenta andares acima do Marco Zero, onde um magnífico memorial registra o nome dos que morreram nos ataques e os ideais dos que não deixarão que sejam esquecidos.

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