segunda-feira, 29 de junho de 2009

O Mosteiro de São Bento

Por Acauan Guajajara

Publicado originalmente em 2/3/2004 18:50:49





Domingo passado, 29 de Fevereiro de 2004, levei meus filhos para assistir à missa no Mosteiro de São Bento, em São Paulo.
Quer dizer, na verdade levei meus filhos para assistir ao magnífico recital de órgão e apresentação de canto gregoriano que é a missa dominical das dez.

O Mosteiro é o máximo, um dos mais belos, tradicionais e acolhedores locais religiosos de São Paulo.

Cheguei atrasado. A Basílica de Nossa Senhora da Assunção (nome oficial da igreja do Mosteiro) estava lotada.

Para minha apreensão o grande órgão de seis mil tubos estava silencioso.
A explicação veio dos paramentos roxos do celebrante e do altar-mór, a cor litúrgica do tempo da Quaresma, o que significava necas de pitibiribas de sólos de órgão nas igrejas católicas durante os quarenta dias deste período, exceto no domingo Laetare (o quarto da Quaresma).

Com o órgão calado e longe demais dos monges para ouvir o canto, dediquei-me a estudar a arquitetura interna da Igreja, cujo estilo ou mistura deles sempre me confundiu.
Não sou nenhum especialista em história da arte, mas pelo menos aprendi a reconhecer uma catedral gótica quando vejo uma.

Dentro da basílica a única coisa que reconheço é que era completamente ignorante para classificá-la.

O grande crucifixo sobre o altar-mór, as esculturas de santos e os altares laterais são barrocos, o teto com suas pinturas poderia ser chamado de neo-renascentista e eu nem arrisquei um palpite para as colunas, arcos e abóbadas da nave central.

Mas lá estava eu, admirando o conjunto lá do fim da fila, quase embaixo do portal de madeira de entrada, quando olho para cima e tenho uma visão interessante.
As pinturas das abóbadas da entrada não representavam elementos católicos tradicionais e sim um zodíaco completo ao centro, um elefante e um golfinho à esquerda, cujas inscrições em latim indicam que representam o elemento terra e o elemento água. Não fui conferir, mas certamente à direita do zodíaco duas outras figuras estão a representar o fogo e o ar.

Nunca tinha reparado naquilo nas muitas vezes que visitei o local, mas também nunca fiquei parado embaixo da porta de entrada, posição que me permitiu perceber mais dois detalhes. As abóbadas onde estavam o zodíaco e os quatro elementos estavam pintadas de azul escuro, representando um brilhante céu estrelado, igualzinho a um teto que eu já havia visto em algum lugar.
No teto sobre o centro da nave um círculo com as letras “A” e “M” sobrepostas também me pareceram muito familiares.

Não demorei muito para lembrar.

O céu estrelado é a cobertura das Lojas Maçônicas e aquelas duas letras, como pintadas, eram parecidas demais com esquadros e compassos entrecruzados do que seria esperado numa coincidência.

Motivos maçônicos ostentados no mais venerando mosteiro do país era motivo para esclarecimentos.
Terminada a missa (que acreditem ou não teve até um sermão muito legalzinho do celebrante, cheio de alfinetadas nas igrejas que vendiam solução mística para os fracassos terrenos), estava à procura de um monge que esclarecesse minhas dúvidas.

Antes, é claro, entrei na fila e comprei o famoso bolo dos monges, feito pelos próprios e vendido no mosteiro. A reputação da iguaria já a tornou mais uma atração turístico-gastronômica de São Paulo (vocês queriam o que? Aqui não tem praia).

Feita a compra, abordo um jovem monge parado no corredor, possivelmente escalado para atender chatos como eu, já que não devo ter sido o primeiro a sair de lá com vontade de fazer perguntas.

Perguntei primeiro sobre o estilo arquitetônico do mosteiro e o religioso, muito simpático e atencioso, me explicou que era chamado estilo beuronense, criado na Abadia de Beuron, Alemanha, daí o nome.

Satisfeito com a competência e paciência do anfitrião, pergunto pelo zodíaco e a representação dos quatros elementos.
A resposta do monge, certamente a versão oficial da casa, é que aquelas figuras estão lá para representar que Cristo é o senhor dos céus (zodíaco) e da natureza (os quatro elementos), com uma observação complementar de que as pinturas não tinham qualquer significado esotérico ou correlação com símbolos da Nova Era.

Não sei se ele me achou com cara de quem curte Nova Era, espero que não, mas fui em frente e perguntei das letras “A” e “M”, entrecruzadas naquele formato característico.

O monge, que parecia saber o significado de cada um dos milhares de símbolos gravados na igreja, nem pensou para responder que se tratava das iniciais de Ave Maria, bastante compreensível sendo Nossa Senhora da Assunção quem dava nome à basílica.

Percebendo que talvez o beneditino já não estivesse gostando muito do rumo que eu dava à conversa, comentei à queima roupa que a maneira como as letras estavam dispostas lembravam muito o esquadro e o compasso maçônicos.

De novo a negativa pronta e firme, firme o suficiente por sinal. Resolvi parar por ali (por enquanto) e me despedi do monge que cumprimentou meu filho com um daqueles apertos de mão cheio de coreografias que gente da minha idade não conhece e que eu pensei que o claustro beneditino não ensinasse.

Apesar disto meu professor de beneditinologia não me convenceu. Posso não entender bulhufas de estilo beuronense, mas se o elefante e o golfinho tem alguma coisa a ver com Cristo eu sou o general Custer.

Depois do Mosteiro, levei meus filhos ao Pátio do Colégio, centro e marco da fundação de São Paulo, mas esta é história para outro dia, já que em sendo lá território dos Jesuítas fiquei apreensivo com a possibilidade de um deles me reconhecer como Índio não catequizado e resolver completar o serviço.

Mais tarde, para checar as respostas do iluminado monge, recorro ao abençoado google. Digito beneditinos e maçonaria. As respostas vêm aos montes. Uma das referências, me chama a atenção:

Já em plena Idade Média, antes de aparecer a Maçonaria Operativa ou Maçonaria de Ofício, entrando em evidência a Arte Gótica, quando começaram a ser construídos muitos conventos igrejas catedrais e palácios, neste período foram importantes as Associações Monásticas principalmente constituídas pelos Beneditinos e Cistercences, que eram clérigos, experientes projetistas e geômetras, excelentes oficiais na arte de construir. Dominaram o segredo da construção por muito tempo, o qual ficou inicialmente restrito aos conventos
...
Entretanto eram obrigados a contratar profissionais leigos, pois a demanda cada vez maior de construções e serviços secundários assim o exigia. Estes profissionais foram aprendendo com estes clérigos e com o tempo em face da decadência da fase Monástica, constituíram as Confrarias Leigas....Os Beneditinos (Ordem de São Bento fundada por São Bento em 529 D.C. e os Cistercences os monges de Císter- França (fundada em l098 pelo abade De Molesme) são considerados por vários autores como os ancestrais da Maçonaria Operativa,

MAÇONARIA CONTEMPORÂNEA - ABORDAGEM HISTÓRICA
Hercule Spoladore – Loja de Pesquisas Maçônicas “BRASIL”-LONDRINA-Pr

Espero que o jovem monge seja tão simpático e paciente quanto me pareceu. Ele vai ter muito que me explicar no próximo domingo Laetare.






5 comentários:

  1. Companheiro, tive suas mesmas dúvidas quando fui lá, recentemente. Também resolvi perguntar ao Google e encontrei este outro site interessante...

    http://titividal.com.br/a-astrologia-e-os-monumentos-brasileiros-i/

    Descobriu mais alguma coisa interessante com o monge!? Um abraço!

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    1. Oi João Lucas,

      Obrigado pela informação.
      Muito interessante.
      E ainda não consegui fazer um daqueles beneditinos me revelarem alguma coisa, mas, me aguardem.

      Abraços!

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  2. Por que o Google merece mais crédito que o monge?

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  3. O Google não merece mais crédito que o monge, por isto mesmo o consultei antes do Google e declarei minha intenção de colher mais explicações com ele qualquer dia destes.

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  4. Qual o mistério ? A resposta esta no nome ...
    Voces fazem uma tempestade em copo d'agua.

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